Setembro foi mais um mês de respiro nos preços internacionais do diesel. No Brasil, no entanto, o valor cobrado nas bombas pouco se mexeu, reflexo direto da política da Petrobras, que já acumula cinco meses sem reajuste. Apesar do alívio no mercado externo, o mês também foi marcado por turbulências internas, com problemas logísticos e investigações que colocam luz sobre riscos estruturais do setor.
A Petrobras manteve, pelo quinto mês consecutivo, os preços do diesel inalterados nas refinarias. Embora o valor praticado ainda esteja abaixo do custo de importação, a defasagem diminuiu um pouco em setembro, com a melhora na relação entre os preços internos e externos. Ainda assim, não houve repasse efetivo ao consumidor.
No mercado internacional, o diesel importado registrou mais um mês de queda, consolidando um movimento iniciado em agosto. A combinação entre a valorização do real e o recuo no preço do barril tem aliviado os custos de importação. Em setembro, o dólar caiu de R$ 5,42 para R$ 5,32, enquanto o barril do petróleo tipo Brent recuou de US$ 67,42 para US$ 67,02. Com isso, o acumulado do ano já chega a uma queda de aproximadamente 13%.
Apesar disso, esse movimento não chegou aos consumidores brasileiros. Isso porque a Petrobras mantém seus preços congelados desde maio. Mesmo assim, o valor praticado pela estatal segue abaixo da paridade internacional há quatro meses, segundo cálculos de agentes do setor. A dúvida que fica é: até quando a Petrobras vai conseguir sustentar essa defasagem? O mercado observa, de perto, os próximos movimentos — e qualquer mudança pode significar um novo ponto de virada para os preços do diesel no Brasil.
Entre os fatos que chamaram atenção no mês, o desdobramento da operação que investiga a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis ganhou novo capítulo. A Refinaria de Manguinhos (Refit), no Rio de Janeiro, foi interditada pela ANP por irregularidades operacionais e fiscais. A empresa, que vinha sendo uma das maiores importadoras de diesel russo no país, representando cerca de 10% do volume nacional, teve suspensas suas atividades até que as questões sejam esclarecidas. A apreensão de cerca de 91 milhões de litros de diesel em navios durante a operação também gerou preocupação sobre possíveis impactos no abastecimento e na concorrência no setor.
Outro ponto crítico foi o registro de problemas logísticos em Minas Gerais. O abastecimento foi afetado por dificuldades no bombeio de diesel da refinaria Regap para as bases de distribuição próximas, o que prejudicou o carregamento de caminhões e, consequentemente, o fornecimento do produto em algumas regiões do estado. A falha momentânea resultou em falta de produto em alguns pontos e aumentos pontuais de preços, até que a situação fosse normalizada. O episódio expõe um risco recorrente no Brasil: a alta dependência de fontes únicas de abastecimento em diversas regiões. Qualquer problema em uma refinaria ou terminal pode rapidamente se transformar em gargalo logístico e pressão de preços localizados.
Para quem está nas estradas, o mês de setembro termina com uma sensação mista. Por um lado, o cenário externo vem colaborando para uma queda de custos. Por outro, o congelamento interno nos preços da Petrobras gera dúvidas sobre até quando essa estratégia será sustentável. Além disso, os desdobramentos da operação que fechou a Refit e os gargalos logísticos reforçam a fragilidade do sistema e o quanto ele pode ser impactado por eventos pontuais.
Outubro começa com muitos olhos voltados para Brasília e para os próximos passos da Petrobras. A expectativa é de como a estatal vai equilibrar sua política de preços diante da defasagem, das pressões externas e do ambiente político-econômico. O mercado segue em compasso de espera, mas sempre sujeito a mudanças inesperadas — basta um solavanco no câmbio, no petróleo ou até mesmo um desdobramento jurídico, para que tudo mude de rumo.