Sanções sem escassez: o diesel russo e os caminhos que se reconfiguram

As sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia às refinarias russas em outubro de 2025 reacenderam os alertas no mercado internacional de diesel. Rosneft e Lukoil, diretamente afetadas, respondem por quase 40% das exportações russas do derivado. Apesar da magnitude dessas sanções, o fornecimento global não sofreu ruptura significativa.

Uma das principais razões para isso está na resposta do próprio mercado. A produção de petróleo aumentou, puxada por países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e por nações fora do bloco. Analistas apontam que esse movimento pode estar ligado a uma tentativa da OPEP de ampliar sua participação de mercado, mesmo com preços mais moderados. Do lado da demanda, há uma tendência clara de desaceleração global, especialmente entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O ritmo de crescimento do consumo vem em ritmo mais lento, o que ajuda a equilibrar a dinâmica entre oferta e demanda no curto prazo.

Ainda assim, o efeito das sanções é perceptível. Analistas do setor indicam que parte do diesel russo pode ser redirecionado para países com menos exposição às restrições ocidentais, como a China, cuja estrutura logística e comercial permite maior flexibilidade no comércio com a Rússia, mesmo diante de riscos de sanções secundárias. Também há relatos de que volumes excedentes possam ser comercializados por meio de embarques sem rastreabilidade, ou misturados a produtos de outras origens para evitar o rastreio da origem russa.

Na Ásia, a Índia ganhou destaque desde o início da guerra na Ucrânia, quando as primeiras sanções da União Europeia à Rússia levaram os países europeus a buscarem novos fornecedores. Nesse contexto, a Índia passou a ocupar um papel central no fornecimento de diesel para a Europa. No entanto, com a nova rodada de sanções da UE, prevista para entrar em vigor em janeiro de 2026, que proibirá a importação de combustíveis derivados de petróleo russo, mesmo que refinado em países terceiros, o país também precisará se reposicionar.

E o impacto é diferente a depender das empresas. A Reliance Industries, maior exportadora de diesel da Índia, afirmou que cumprirá as exigências europeias e deixará de comprar petróleo russo; já a Nayara Energy, responsável por cerca de 10% das exportações indianas de diesel, e que possui 49% de participação acionária da empresa sancionada Rosneft, enfrenta um desafio maior, já que uma parte significativa de seu suprimento vem do petróleo russo.

No caso brasileiro, o país aparece diretamente exposto a essa reorganização. Até recentemente, o Brasil foi o segundo maior destino das exportações de diesel da Rússia. Com o aumento do risco regulatório e o endurecimento das sanções, é provável que grandes empresas que atuam com exposição ao sistema financeiro dos Estados Unidos evitem a aquisição de diesel russo, redirecionando suas compras para origens alternativas, como por exemplo do próprio Estados Unidos. Esse movimento deve resultar em aumento do custo de importação, já que o diesel russo vinha sendo comercializado com desconto em relação ao mercado internacional.

Apesar de a oferta global de diesel ainda estar fluindo, a forma como ela circula mudou. O Brasil, que depende da importação para complementar sua demanda interna de diesel e possui infraestrutura logística sensível, tende a sentir essas oscilações de forma mais direta, não necessariamente pela falta de produto, mas pelo encarecimento das alternativas. Em um mundo cada vez mais influenciado por disputas geopolíticas, entender o comportamento do diesel exige ir além da cotação do petróleo. É preciso observar quem compra, de quem compra e a que preço… e o Brasil, nesse cenário, está mais exposto do que parece.

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