O preço do diesel subiu de novo em novembro, mas dessa vez, diferente do habitual, a culpa não foi do dólar nem do barril de petróleo. Então, qual foi a razão para mais uma pressão no bolso dos transportadores? A resposta, como quase sempre acontece no mercado de combustíveis, está nos bastidores, e não exatamente nos números mais visíveis.
Vamos começar pelo barril. É verdade que o petróleo teve ligeiro recuo nas últimas semanas, refletindo uma combinação de manutenção da produção pela OPEP+ com uma demanda desacelerando. Mesmo assim, o diesel não acompanhou essa tendência de queda. E isso tem tudo a ver com o que está acontecendo com as rotas e origens do combustível que chega ao Brasil.
Em novembro, grandes players brasileiros começaram a reduzir as compras de diesel vindo da Rússia. O receio é o de sofrer sanções secundárias por parte dos Estados Unidos, após o endurecimento das restrições contra as refinarias Rosneft e Lukoil. Só para ter ideia, entre 2023 e setembro de 2025, o Brasil foi o segundo maior destino do diesel russo no mundo, atrás apenas da Turquia. Agora, com esse canal de fornecimento ficando mais arriscado, os importadores brasileiros estão migrando parte dessa demanda para os Estados Unidos, e aí o custo muda completamente.
Os descontos que tornavam o diesel russo mais barato praticamente sumiram. O Financial Times mostrou que, ao considerar os custos de frete e operação, a diferença entre o combustível russo e o americano ficou quase nula. Ou seja, perdeu-se um dos principais incentivos para continuar comprando da Rússia. E o diesel americano, por sua vez, tem enfrentado seus próprios problemas. O estoque de diesel com ultrabaixo teor de enxofre nos EUA caiu num período em que se esperava aumento, já que o inverno se aproxima. A falta de previsibilidade e as paradas inesperadas em refinarias, somadas a manutenções programadas e gargalos operacionais em países como Rússia e Índia, empurraram as margens de refino para o maior nível em dois anos, especialmente na Europa e na Ásia. Isso afeta todo o mercado, inclusive o nosso.
Para quem abastece toda semana, isso significa pagar mais por um diesel que, na origem, está saindo de rotas mais caras — e mais instáveis. Com menos diesel russo chegando ao Brasil e o americano custando mais caro, o reflexo é imediato: o valor do produto no mercado interno sobe. E o impacto já foi captado no PPI e começa a ser sentido também nos postos. Para piorar, seguimos enfrentando problemas locais. A Refinaria de Manguinhos (Refit), no Rio de Janeiro, continua envolvida nas investigações que levaram à interdição pela ANP e apreensão de cargas suspeitas, o que impacta principalmente o mercado carioca e paulista.
Enquanto isso, a Petrobras segue parada. Já são seis meses seguidos sem reajustar o preço do diesel nas refinarias, mesmo com o mercado internacional se movimentando.
E como se não bastasse toda essa incerteza, já temos aumento certo no radar: a partir de janeiro de 2026, entra em vigor mais um aumento de ICMS, o que deve adicionar cerca de R$ 0,06 por litro no preço final. Ou seja, mesmo que lá fora tudo fique estável, o diesel vai subir por aqui.
No fim das contas, se o preço depende do estoque americano, talvez o frotista tenha que torcer por um inverno mais ameno nos EUA e na Europa. Porque se o frio apertar e a demanda por diesel aumentar por lá, quem vai sentir o baque, mais uma vez, somos nós, aqui no Brasil. E na bomba, claro.